4 de jan. de 2012

Fukanzazengi - "Regras Gerais para a Prática da Meditação Zazen" - Eihei Dogen

Fukanzazengi
"Regras Gerais para a Prática da Meditação Zazen"
Eihei Dogen

Este texto foi escrito pelo mestre Eihei Dogen (séc.XIII), fundador de escola Soto Zen. Me foi enviado pelo Lama Padma Samten, coordenador do Centro de Estudos Bodisatva, do Rio Grande do Sul.
É um dos textos feitos pelo grande mestre Zen, e se direciona para a técnica do Zazen (Meditar Sentado), elemento fundamental dentro da prática Zen Buddhista. Os comentários entre chaves e em negrito são de minha autoria.
Tam Huyen Van
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Agora que localizamos a fonte do caminho, descobrimos que é universal e absoluta. E desnecessário distinguir entre "prática" e "iluminação". O supremo ensinamento é livre, assim, por que estudar os meios de chegar a ele? O caminho é muito diferente do engano. Por que, então, estar preocupado em eliminar este último?
O caminho está completamente presente onde você está, assim, qual a utilidade da prática ou iluminação? Entretanto, se de início houver a menor distância entre você e o caminho, o resultado será uma separação maior do que a existente entre o céu e a terra. Se o menor pensamento dualístico surgir, você perderá sua mente-Buda. Por exemplo, alguns são orgulhosos de sua compreensão, e pensam que estão ricamente dotados da sabedoria de Buda. Imaginam que atingiram o caminho, iluminaram suas mentes e ganharam o poder de tocar os céus. Imaginam que movimentam-se no reino da iluminação. Mas, de fato, quase que afastaram-se por inteiro do caminho absoluto, que esta além da própria iluminação.
É importante lembrar que mesmo o Buda Shakyamuni teve que praticar zazen durante seis anos. Também se diz que Bodhidarma praticou zazen durante nove anos no templo de Shao-Lin, para habilitar-se a transmitir a mente-Buda. Sendo estes sábios antigos tão diligentes, por que razão os buscadores de hoje chegariam ao mesmo sem a prática de zazen? Vocês deveriam interromper a busca de palavra e letras aprender a introspectar-se e refletir por si mesmos. Quando vocês praticarem isto seu corpo e mente irão naturalmente perder nitidez e sua natureza original de Buda virá a manifestar-se. Se vocês desejam atingir a sabedoria de Buda, deveriam começar imediatamente a praticar.
Na prática de zazen e desejável uma sala quieta. Vocês devem ser capazes de moderação na comida e bebida, afastando-se de todas as relações ilusórias. Despreocupando-se das coisas em redor, evitem pensar baseados em bom-e-mau ou certo-e-errado. Assim, tendo interrompido as várias funções de suas mentes, abandonem mesmo a idéia de tornarem-se Budas. Isto vale não apenas durante o zazen mas para todas as suas ações diárias.
Usualmente um tapete grosso e quadrado é colocado no chão onde você senta numa almofada redonda sobre ele. Você pode sentar em postura de lótus ou meio-lótus.Em lótus, inicialmente coloque o pé direito sobre a perna esquerda e após, o pé esquerdo sobre a perna direita. Em meio-lótus, ponha o pé esquerdo sobre a perna direita. As roupas devem ser amplas mas aprumadas. A seguir coloque a mão direita sobre o pé esquerdo e a mão esquerda espalmada sobre a palma da mão direita, com as ponta dos polegares tocando-se levemente. Sente ereto, sem inclinar-se quer para a direita ou para a esquerda, para frente ou para trás. As orelhas devem estar no mesmo plano que os ombros, e o nariz na mesma linha que o umbigo. A língua deve ser colocada contra o céu da boca e os lábios e dentes firmemente cerrados. Com os olhos permanentemente abertos, respire suavemente pelas narinas. Finalmente, tendo regulado o corpo e mente desta maneira, inspire profundamente, balance o corpo para a esquerda e para a direita, e então sente-se firmemente como uma rocha. Pense sem pensar. Como é isto feito? Pensando além de pensar e não-pensar. Isto é a verdadeira base do zazen. Zazen não é "uma meditação passo a passo". Em lugar disto, é simplesmente a prática fácil e agradável de um Buda, a vivência da sabedoria de um Buda. A verdade aparece, não resta qualquer ilusão. Se compreender isto estará completamente livre, como um dragão na água ou um tigre que repousa na montanha. A lei suprema então soergueu de si mesma, e você está livre dos aborrecimentos e confusão. Ao concluir zazen, mova seu corpo lentamente e calmamente ponha-se de pé. Não se mova violentamente.
Por meio do zazen é possível transcender a diferença entre "mundano" e "sagrado" e chegar à habilidade de morrer durante o zazen ou enquanto em pé. Para nossa mentes discriminativas é impossível entender como os Budas e Patriarcas, por meio de um dedo, vara, agulha ou martelo de madeira expressaram a essência do Zen seus discípulos, e como eles transmitiram a iluminação com um "hossu", punho, bastão ou grito. Nem pode isto ser entendido por meio de poderes supra-naturais a de uma visão dualística de prática e iluminação. Zazen é uma prática que está além dos mundos subjetivo e objetivo, além do pensamento discriminativo. Portanto nenhuma distância pode ser feita entre os inteligentes e os estúpidos. Praticar caminho com o coração uno é, em si mesmo, iluminação. Nenhuma separação existe entre prática e iluminação ou zazen e vida diária.
Os Budas e Patriarcas, tanto aqui como na Índia e na China, todos preservaram mente-Buda e enfatizaram o treinamento Zen. Vocês deveriam portanto, devotar-se exclusivamente e absorverem-se totalmente na prática de zazen. Ainda que se diga que muitos são os meios de entender o Budismo, vocês deveriam praticar apenas zazen. Não há qualquer razão para abandonarem o lugar onde sentam e fazer viagens fúteis a outros países. Se o primeiro passo é equivocado, imediatamente tropeçam.
Vocês tiveram a boa fortuna de nascer com um precioso corpo humano, não desperdicem seu tempo. Agora que sabem o que é o mais importante no Budismo, como podem satisfazer-se com o mundo transitório? Seus corpos são como gotas de orvalho sobre a grama, e suas vidas são como o brilho de uma faísca atmosférica, desaparecendo em um momento.
Quem pratica o Zen não se surpreende com um dragão real, nem usam tempo apalpando uma única parte de um elefante [Aqui o mestre fala de um Koan famoso, que versa sobre três cegos apalpando um elefante]. Ande no caminho que aponta diretamente para a natureza original de Buda. Respeite aqueles que atingiram a compreensão e nada mais têm a fazer. Torne-se um com a sabedoria dos Budas e tenha sucesso em atingir a iluminação dos Patriarcas. Se praticar zazen algum tempo, chegará a isto. A casa do tesouro então se abrirá por si, e você será capaz de a usufruir segundo sua disposição.

Um comentário:

  1. Infelizmente não me lembro do site que retirei o texto Fukanzazengi escrito pelo Mestre Dogen - encontrei aqui nos meus documentos. Portanto deixo meus agradecimentos ao Lama Samtem e ao Prof. Tam Huyen Van (Cláudio Miklos) pelo texto. Gasshô.

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