29 de nov. de 2010


"O riso é a menor distância entre duas pessoas." Victor Borge

28 de nov. de 2010

Tameshigiri: Ueki Sensei

Kenjutsu: Corte perfeito!


As três formas de manejar a espada para concluir a ação do corte são: tenouchi(correta empunhadura), hasuji (perfeito alinhamento da lâmina) e tome (domínio do curso da arma).

22 de nov. de 2010

Miyamoto Musashi


"Jamais se deve pretender ter uma arma ideal para se vencer alguém em combates ou nas lutas da própria vida diária mas, em vez disso, usar o que se tenha a mão."

18 de nov. de 2010

O Dharma Eterno (conto zen)


Um dia um discípulo perguntou ao seu professor:
"Mestre, todas as coisas existentes têm de extinguir-se, mas há uma Verdade Eterna?"
"Sim," disse o mestre. E apontou para o jardim:
"Ela é como as flores do campo, que de tão belas parecem brocados de pura seda; como um
riacho aparentemente imóvel, mas que de fato está fluindo suavemente para o oceano."

16 de nov. de 2010

BUDÔ


"O Caminho do Bu ensina-nos a nos livrar da ambição pessoal e da inveja, a nos tornarmos vazios."

11 de nov. de 2010

Chikara: Força


"A força não povém da capacidade física, e sim de uma vontade indomável."
Mahatma Ghandi

9 de nov. de 2010

A arte da espada!

Kenjutsu: O Olhar Adequado


Quando se inicia um combate, o Olhar adequado é o MONO O MIRUME, através do qual, procura-se ver o espírito do adversário e suas intenções ocultas. Para tanto, coloca-se o globo ocular na posição Sanpaku (mostrado três pontos brancos nos olhos), o que ajuda os olhos a focalizarem o objetivo principal. Ao ser iniciada a luta, o olhar deve ser o ENSAN NO MITSUKE (olhar dirigido para longe). Dessa forma, com os olhos apontados para o infinito, passa-se a ver tudo sem focalizar nada em particular.

Livro: A Magia da Espada Japonesa, autor: George Guimarães, Editora Cultrix.

7 de nov. de 2010

As Vias Marciais do Japão - O Treino da Unificacão do Corpo com o Espírito


por Moritaka Ueshiba
Aiki News #42 (November 1981)
Traduzido por Alberto Silveira Ramos

Quando visitei dojos (locais de treino físico e espiritual) de bujutsu (artes marciais) em vários locais, reparei que poucos tinham no dojo um altar para a “divindade”. Isto é especialmente verdadeiro nos dojos em escolas. Parece que as pessoas modernas pensam que podem dominar uma arte marcial se, simplesmente, moverem apenas o corpo. Quando olho para estas pessoas que estão a ser treinadas com esta atitude, e fazem-no com bastante suor, sinto uma espécie de inexprimível pena, associada a uma grande responsabilidade. Um “dojo” é, conforme podemos ver pelos caracteres com que a palavra é escrita, um local de treino (jo) para a “Via” (do ou michi). Nos dias actuais, porém, “dojo” está mais ajustado ao termo “fábrica”. Como uma analogia: apesar dos grandes avanços nas ciências e enormes progressos na fabricação de ligas e na têmpera de metais, as espadas modernas não podem ser comparadas com as famosas espadas do passado. O acordo entre a ciência moderna e as antigas crenças Xintoístas é a grande passagem; esse é o nosso objectivo. Gostaria de alcançar a grande essência do budo através deste espírito de harmonia entre o novo e o velho.

As pessoas são cortadas primeiro, não pela lâmina da espada, mas pela sakki, o desejo de matar pela sede de sangue, que é impulsionado para fora da cabeça do atacante, antes da lâmina se mover. O famoso professor do terceiro Shogun Tokugawa, Iemitsu, Yagyu Tajima no Kami estava um dia a passear num jardim, seguido por um servente que foi de repente assolado pelo pensamento: “Se eu o atacasse agora, mesmo um grande espadachim como meu amo, seria incapaz de resistir…”. Nesse mesmo instante, como se tomado por uma grande ansiedade, Tajima no Kami voltou precipitadamente aos seus aposentos e disse ao seu servo: “Agora mesmo, enquanto passeava no jardim, senti um feroz ataque de sakki contra mim. Mas mais ninguém, excepto tu, estava presente. O que eu temo é a sakki quando não há nenhum inimigo aparente.”

A essência de empreender uma guerra é antever o plano de batalha do inimigo. Tal como a frota da Rússia Czarista do Báltico, que estava a aproximar-se das nossas águas nacionais; as dificuldades enfrentadas pelo Almirante Togo e pelos seus homens, incluindo Shimamura and Akiyama, foram maiores do que as palavras podem exprimir. Eles foram quase impossibilitados de comer ou dormir. O seu único pensamento foi suplicar o “kami” para preservar esta nação imperial. Uma noite, o Capitão Akiyama teve uma visão da frota do Báltico numa fila única, dirigindo-se para Norte nos estreitos de Tsushima, entre a parte Oeste do Japão e a península da Coreia. Quando, mais tarde, relatou o seu sonho ao seu oficial de comando, o Almirante Togo compreendeu que a frota inimiga teria de passar por esse caminho e foi assim que o plano de batalha da nossa nação foi decidido (por este sonho). Qualquer pessoa que alguma vez tenha tido uma experiência com inspiração, irá prontamente admitir que essas coisas acontecem.

Como este outro exemplo: após ter atingido um certo nível no treino da “via da espada”, pode sentir a intenção do seu inimigo para cortar, antes da lâmina iniciar o seu movimento de corte. Eu próprio tive a experiência de ver uma “bala em pensamento” de cor branca e com uma polegada, e de ouvir o seu som sibilante enquanto voava para mim, antes da verdadeira bala ser disparada. É uma experiência que desafia completamente o tempo e o espaço. No budo genuíno, no entanto, simplesmente não basta antever o plano do inimigo. Mas equipar o teu Eu interior com o poder de mover o inimigo de acordo com a tua própria vontade… é essa a verdadeira Via dos Deuses (kami no michi). Isto é apenas a ponta do iceberg da experiência inpiracional encontrada relativamente ao budo. Se os praticantes de artes marciais dos nossos dias percebessem que deviam honrar o “kami” e treinar na unicidade do espírito e do corpo, ficariam espantados com o seu próprio progresso.

Iaido

6 de nov. de 2010

"Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados."
(Mahatma Gandhi)

4 de nov. de 2010

A História de um sonho em Bizan

"A História de um sonho em Bizan" é uma obra póstuma do célebre SHIRO SAIGO, que foi, a despeito de sua estatura (1m, 55), o mais lendário dos campeões da primeira época do Judo. Modêlo do romance "Sugata Sanshiro", foi em 1907 diretor do jornal "Tokyo Hinode", quando escreveu a presente novela, de um valor considerável para todo artista marcial.

Há algum tempo, decidí-me a contornar a península do Shimabara para caçar. A estação anunciava-se excelente, e eu tinha grandes esperanças. Foi então que lembrei-me que a dois quilômetros do castelo de "Shimabara", perto do qual encontrava-me, existia uma fonte termal chamada "Shinto", ao pé do monte "Bizan", e para lá dirigí-me, para banhar-me e repousar-me. A fonte havia sido descoberta sete anos atrás, e, na época, era muito freqüentada. Os hotéis eram numerosos, mas a guerra Russo-Japonesa tinha destruído tudo, e não restava nada habitável. Um casal de velhos tomava conta das termas.
À soleira de seu casebre, fincado neste sítio desolado e encantador, a velha guardiã vendia guloseimas às crianças que vinham a este monte sagrado. Pedi-lhe hospitalidade, e ela cedeu com bondade dizendo-me: __"Tudo o que posso oferecer-vos, se vos convêm, é um pouco de arroz e uma esteira velha, mas felizmente um velho Samurai célebre virá esta tarde para o banho, e vós podereis sempre passar a noite a conversar com ele. Agora ide banha-vos, para descansar das fadigas do caminho".
Quando o velho Samurai entrou, cumprimentei-o inclinando-me profundamente. Ao endireitar-me, vi seus cabelos de neve, sua longa barba prateada, e, nas suas vestes o emblema de seu mestre, que, se me lembro bem, era composto de um bordão levado por dois bonzos. Tudo nele respirava nobreza de espírito. Apresentei-me: __"Chamo-me Shiro Saigo, e vim aqui para caçar. Falaram-me de vós, seria indiscreto perguntar-vos vosso nome?" __ "Antes de renunciar ao mundo, respondeu-me, estava a serviço de um grande príncipe, a quem ensinava Kendo (esgrima Japonesa), e agora me chamo "Furuneko Mushinsai". Perto daqui, sobre a montanha, construí uma cabana, na qual estudo o dia inteiro".
Eu pensava: __" Que nome estranho! Se Mushinsai, por sua significação, "o que renunciou ao mundo",é, na verdade, um nome de Samurai. Furuneko, quer dizer "o velho gato" é bastante curioso. Assim, intrigado pela origem desta nome, exprimí-lhe meu pensamento: Já percorri muitos lugares, mas nunca tinha ouvido um nome semelhante!" "Tendes razão, respondeu-me sorrindo, Furunelo não é o meu nome, como não é de meus filhos.É um apelido, e tem sua origem em uma estranha aventura, da qual fui testemunha há muito tempo. Mas não podereis compreender, se não tiverdes uma certa experiência das artes militares, perdoai-me, entendes?" "Sim, respondí-lhe, apaixono-me pelas artes militares desde minha infância. Durante estes últimos dezesseis anos, estudei o Judô, com o Mestre Jigoro Kano (fundador do Judô), mas, lamentavelmente, não penetrei ainda todos os segredos. Peço-vos, contai-me a história de vosso nome, ouvi-la de vossa boca será para mim uma grande alegria". "Está bem, disse o velho Samurai depois de um instante de reflexão, contar-vos-ei".


" Quando era muito jovem ainda, há muito tempo, praticava as artes guerreiras. Uma tarde, não sei de que maneira, apareceu em meu quarto um enorme rato. Fui logo buscar meu gato "Tama", muito guloso de ratos, mas, assim que estiveram frente a frente, o rato saltou-lhe à cabeça uma, duas, três vêzes, com a rapidez de uma flexa... e, estou pesaroso de dizê-lo, meu gato tão forte, mordido no focinho, fugiu. Quatro outros gatos, célebres por sua coragem, foram postos em fuga do mesmo modo. Todos, com ferimentos na garganta, olhos e patas, tinham um aspecto lamentável. Eu estava estupefato, e cheguei à conclusão de que tinha sido batidos porque tinham sentido medo. Então, tomei da espada com a qual praticava Kendo há bastante tempo e com ardor, mas no momento de ser golpeado mortalmente o rato esquivou-se. Enervei-me, batendo à direita, à esquerda, para frente, para trás, mas o rato evitava os golpes com a rapidez de um relâmpago. Uma vez, correndo ao longo do meu sabre de bambu, saltou-me mesmo em plena face, e, bravo guerreiro que sou, achei-me trêmulo e exausto. Justamente então, um vizinho que tinha sido atraído pelo ruído, disse-me: __"Conheço um gato tão valente que não tem rival, vou buscá-lo e podereis dormir tranqüilo". Confuso por ter deixado que me vissem naquele estado, aceitei. O gato que trouxe-me era muito velho. Eu não podia, à primeira vista, esperar nada dele: suas presas e garras já desgastados e tinha, por cima, os olhos lacrimejantes. Parecia mesmo incapaz de correr. Não pensei nem um instante que pudesse matar o tal rato mordendo-o, mas desde que tinham assegurado sua coragem, talvez, apesar de tudo, tivesse uma técnica pessoal para pegar ratos. Coloquei-o pois em meu quarto. Por mais estranho que seja, o grande rato que tinha posto em fuga os jovens gatos... e eu próprio, hábil kendoka, ficou todo encolhido de medo em um canto. O velho gato, avançando com calma, comeu-o sem que ele opusesse a menor resistência! Tinha eu a impressão de que havia sonhado.
Era realmente maravilhoso! Quando já estava adormecendo, tarde da noite, pareceu-me ouvir, no silêncio, o murmúrio de uma conversa no cômodo vizinho. – Quem estaria alí? Olhei furtivamente e vi... uma assembléia de gatos. O velho gato e os jovens! Tinham-no instalado no lugar de honra e, sentados diante dele, cada um cumprimentava-o curvando-se profundamente. Um deles adiantou-se e lhe disse:__ "Nascidos para pegar ratos, durante gerações aperfeiçoamos nossa técnica. Jamais até hoje tínhamos conhecido a derrota. Agora, estamos todos desonrados. Entretanto triunfastes com facilidade sobre aquele rato. Será que tendes um técnica especial?

_"Sois jovens - responde o velho gato - vosso movimentos são vivos, mas em verdade não conheceis o segredo do combate, para serdes vitoriosos. É a única razão de vossa derrota. Apesar de que vosso grau de evolução mental difira do meu, vou revelar-vos esse segredo, em verdade muito simples. Antes porém contar-me-eis a história de vossos estudos e analisareis para mim o que sentistes hoje ao atacar o rato".
Um dos mais jovens, um gato preto, avançou e disse: __"Apenas saí do ventre de minha mãe, e mal abri os olhos, já me exercitava em pegar as borboletas no céu, os passarinhos nos jardins e os camundongos na cozinha. Agora estudei muito e sou capaz de saltar um muro de dois metros de altura, posso esgueirar-me por um buraco do tamanho de um punho, correr por uma trave estreita tão bem quanto na rua, dar um salto mortal, morder, arranhar, fingir dormir para melhor surpreeender e muitas outras coisas ainda. Todos estão de acordo comigo em reconhecer meu valor, mas não compreendo a razão de minha derrota esta tarde."
O velho gato respondeu-lhe sorrindo: __"Fizestes bem em estudar os princípios e a técnica. É de fato para que todos possam abordar a verdade fundamental da "via" que os grandes mestres do passado expuseram os princípios e ensinaram a técnica. Como a "via" é contida nestes princípios, para conhecer seus segredos deveis estudar a progressão da arte. Mas quando possuis a teoria e tendes uma técnica eficiente, pensais que sois grandes mestres e que está terminado o estudo, como a rã no fundo do poço persuade-se de que o céu é muito pequeno. Ao contrário, tendes ainda que estudar para compreender que o segredo da arte não reside somente na técnica". Um gato malhado avançou então e tomou a palavra: __"Quando comecei meu estudo, ouvi meu professor ensinar que o segredo da vitória encontra-se na força do espírito: "ki". Verifiquei que quando se combate um inimigo deve-se dominá-lo pela força do nosso espírito; ele estará então à nossa mercê. Ainda que não se faça nenhum esforço particular nesse sentido, a boa técnica estará prestes a brotar livremente, segundo as circunstâncias. Da mesma maneira, somente pelo nosso olhar carregado de "Ki", podemos paralisar o rato que corre para seu buraco. Por isso nunca deixei de dar têmpera ao meu espírito. Atualmente meu corpo está cheio de força e parece-me que minha força estende-se ao Universo inteiro. Em combate, sempre usei esta força com sucesso. Porque estranha magia o rato escapou-me esta noite? Antes mesmo que eu tivesse tido tempo de notar sua existência, tal um fantasma, ele não estava mais no lugar onde o havia visto, deslocando-se com uma habilidade desconcertante. Minha técnica favorita foi ineficaz, o poder de meu espírito também, e, ainda por cima, sofri uma grave derrota. Podereis fazer o favor de esclarecer-me?" O velho gato respondeu gravemente: __"Este poder de espírito, que tendes estudado, é uma força temporária, porque contais com ela. Nunca é bom contar com alguma coisa, quando quereis subjugar vosso inimigo e este também quer vos vencer. Se vos encontrardes face a alguém que não podeis subjugar; que acontece? Além disso, se subestimais vosso inimigo ele pode muito bem vos desprezar também e, se, por acaso, vos fostes superior, que fareis? Pensais sempre ser superior, isto é muito mal. O que sentistes em vosso corpo e no Universo é mesmo uma manifestação da Ënergia", mas vosso espírito está ainda longe do "Koo Zen No Ki", do filósofo Chinês Mooshi, o que quer dizer "visão larga". Koo Zen No Ki" é seguramente a força do Universo, mas a de vosso espírito é uma força passageira. Tal a diferença entre a força constante da corrente e a da inundação da noite. Vou lembrar-vos, para terminar, o velho provébio: "O cordeiro enfurecido morde". Aconteceu a mesma coisa com o rato: no instante crítico de sua vida nada mais contou, a vida, a morte, o desejo, a vitória ou a derrota. Não procurou proteger o corpo e aí está o segredo que deu a seu espírito a têmpera do aço. É evidente que não podeis vencê-lo com vosso espírito! A natureza de vosso "Ki" é uma espécie de obstinação, uma das coisas mais prejudiciais nas Artes Marciais". A obstinação liga o corpo e o espírito para torná-los semelhantes a estátuas de pedra, e paralisa a ação. Eis porque acontece freqüentemente que um mais fraco vos derrote.
"Ki no kori wa teki ni kokoroo, oku monoto, kanete zo satore, asana yuna ni" significa: "A obsessão da vitória é o estado de espírito favorável a vosso inimigo, isto é, contra vós mesmos; é preciso lembrar-se disso cada manhã e cada noite". Meu "Ki", ao contrário do vosso, é o que anima tanto a força positiva quanto a força negativa, é o espírito imóvel e eterno. Lembrai-vos de "Tanden Seika no Chikara" que vos assemelha a "colocar toda vossa força no estômago"e, guardando bem este ponto, estudai-o seriamente". Um longo silêncio seguiu este conselho. Depois, um gato malhado, de certa idade, avançou lentamente e disse: __"Penso que o segredo da vitória reside em "Ju" e "Wa", em outras palavras, 'flexibilidade' e 'não-resistência'. Da mesma maneira que com um véu leve apara-se uma pedra, quando o inimigo avança retiro-me sem me opor e, quando me puxa, sigo-o sem resistência. Durante muito tempo exercitei-me na arte de vencer utilizando a força do adversário, conservando a minha reserva, mas esta noite não pude controlar o rato com meu "Ju" nem dominá-lo com meu "Wa". Longe de vencer, acumulei imperícias. Que devo pensar da máxima "a flexibilidade vence sempre a força": "Ju yoku go o sei su"? Quererias esclarecer-me, para evitar que tal dúvida permaneça em mim? "
O gato velho aquieceu-se e lhe disse: __"O "Ju" e o "Wa" que foram objetos de vossos estudos não são os mesmos que permitem à inspiração natural brotar espontaneamente pelo canal do "não-eu" e da ïnocência". Os vossos foram criados fracionariamente, e são utilizados como expedientes, donde vossa derrota hoje. Quando se está animado pelo egoísmo e procura-se um ganho pessoal, a intuição do que é o melhor a fazer não pode circular em vós. Vosso espírito preso pelo egoísmo, não permite o brotar divino da inspiração natural.
A inspiração natural, saída do "não-eu" e do "não-desejo" do Universo, pelo abandono às variações naturais do poder positivo e do poder negativo, é que produz o vento e o trovão, as nuvens e a chuva, o calor e o frio, todas as coisas sem princípio. Do mesmo modo, para que o "Ju" e o "Wa" das Artes Marciais possam ser de inspiração natural, devem sair de nosso "não-eu" e de nosso "não-desejo". Lembro-me de que, em minha juventude um gato estranho habitava uma cidade vizinha. Dia e noite parecia dormir. Ter-se-ia acreditado ser um gato de pedra. Ninguém lembrava-se de tê-lo visto capturar um só rato. Entretanto, não havia nenhum rato nos arredores de sua casa, e, quando ele se encontrava em outros lugares, os ratos desapareciam. Visitei-o para interrogá-lo sobre este mistério. Não me respondeu. Várias vezes renovei minhas perguntas, mas ele guardou silêncio. Foi então que entendi claramente que quando a compreensão vem, não se fala, mas fala-se muito quando não se compreendeu.
Se o gato não falava, não era porque não podia responder-me, mas porque tinha aprofundado os princípios das Artes Marciais pelo seu desprendimento de si mesmo e de todas as coisas".
Escutava-os assim desde algum tempo. Por fim, não pude calar-me; introduzí-me entre eles, e depois de ter saudado o velho gato como se deve, disse-lhe: __"Sou um homem d'armas, e o fui sempre até o presente. Não sou um noviço nesta "via" e há bastante tempo estudo as Artes Marciais. Devo dizer-vos que, malgrado todos os meus esforços, não consegui penetrar o coração destas Artes. Sem querer, e por um feliz acaso, ouvi todos vossos diálogos, de sentido tão profundo. Pareceu-me ter sido, escutando-vos, como que uma revelação do que é o mais difícil nas Artes Guerreiras. Seria a maior satisfação para mim poder penetrar mais ainda os segredos fundamentais".
Então o velho gato desceu lentamente de seu lugar de honra e depois de cumprimentar-me bem curvado, segundo o velho protocolo, respondeu-me gravemente: __"Não sou senão humilde animal. Como poderia eu conhecer também o que podem conhecer os homens, reis da criação...? Mas ouvi outrora de meu mestre que os segredos da arte de capturar ratos e dos das Artes Marciais são os mesmos e não formam senão uma única "via". Por isso é possível que o miserável animal que sou possa ter a ousadia de ensinar alguma coisa ao homem. Se me assegurardes que não vos ofenderei, estou pronto a vos desvendar meu humilde saber, a título de informação".
Como protestei, afirmando que, longe de julgar-me ofendido, ficaria muito honrado, prossegui: __"Segundo meu pensamento, a verdadeira natureza ou essência das Artes Marciais não deve ter forma, tempo, nem odor. Deve ser alguma coisa como o vazio, excessivamente calmo. Entretanto, não é o Vazio e menos ainda a Morte, porque se encontra em todo lugar bem viva. É uma coisa incomensurável e maravilhosa que age sempre estranhamente. Quando vos exercitardes nessa essência - por incrível que possa parecer - os maus pensamentos, os desejos, tudo desaparecerá como o nevoeiro matinal dispersado pelo sol. A preocupação, a ilusão e a angústia dissolve-se-ão completamente, e sereis banhados pelo verdadeiro "Ki", penetrando no mais profundo da personalidade. Experimentareis como que uma imensa satisfação. Sentireis também que a barreira existente entre a vida e a morte, o mundo limitado funde-se por si mesma. O segredo da prática das Artes Marciais não se encontra "principalmente"na vitória ou na derrota, onde rivaliza-se a técnica, mas na ação de assimilar a própria "entidade". O segredo para atingí-lo é o desprendimento de si mesmo e do desejo de ganho individual. No velho provérbio, diz-se "Se tens um grão de poeira nos olhos, o mundo te parece bem pequeno. Se tudo desaparecesse de teu coração, a existência parecer-te-ia imensa".
Encontra-se também no "EKKYO" (Arte da Divinação) uma passagem particularmente interessante pelo que nela contém: "Pela imobilidade completa, pelo desprendimento de si mesmo e de todos os pensamentos, vossa intuição trabalhará por si mesma para colocar-se em contato com o mundo". Por outras palavras, se rejeitardes todos maus pensamentos, todos desejos, podereis vos adaptar inteiramente e sem o saber à Via da natureza e do Universo. Assim obterei uma atividade, uma energia, tão maravilhosa quanto estranha. Um bonzo Zen, que havia tido a revelação do céu (Ku) , foi obter o "Aushin Ritsumei", isto é, a tranqüilidade de espírito, a verdade e a compreensão de sua missão. Atingiu-o por diferentes meios, com duros sofrimentos, tais como assentar-se na obscuridade de uma sala de Meditação (Zendo) em pleno inverno e recolher-se profundamente em silêncio completo, durante longas horas, ou penetrar no mais profundo das montanhas e das florestas e fazer-se bater pela água gelada e purificante de uma cascata tombando de uma altura de mais de 300 metros, ou jejuar e rejeitar todo desejo corporal. Estes sofrimentos a fim de atingir a "entidade" são um exemplo que mostra bem o objetivo principal da prática das Artes Marciais. O verdadeiro Samurai não perde jamais a razão diante de qualquer acontecimento, não experimenta nenhum medo e não se perturba diante da ameaça de uma lâmina faiscante. Por grande que possa ser seu sofrimento, não se altera diante da prova da água ou a do fogo, pode continuar impassível nas dificuldades e nas dores contínuas, não perde sua tranqüilidade mesmo se é objeto das piores injúrias e não se orgulha de nenhuma ação, por mais brilhante que seja. Razão de seu poder reside no fato de que sabe compreender a verdadeira natureza das Artes Marciais. Tudo isso refere-se ao que se chama "intuição recíproca" ou "comunicação de espírito a espírito" e, para obter esta intuição é preciso que vos experimenteis uns aos outros e vos choqueis mutuamente para que vos torneis mais brilhantes e melhores juntos. É preciso passar por toda sorte de sofrimentos, e é no curso deste longo período que compreendereis e assimilareis naturalmente sem vos dardes conta. Nenhum mestre, tendo tido a revelação da "Via", por mais sábio que seja, pode dar uma definição exata desta COISA nem lhe dar qualquer forma... Deveríeis compreender isso".
O velho gato acabou aí sua explicação e desapareceu tão subutamente da minha vista como se tivesse se dissolvido no ar. Mas eu tinha tido, escutando suas palavras, o sentimento de ter atingido o fundo mesmo da REVELAÇÃO.
Existiam nesta época, muitos Mestres célebres versados em minha Via (Kendo e Jiu-Jitsu) mas depois da história que acabei de evocar, não experimentei nenhuma desvantagem batendo-me com eles. Foi graças ao dom transmitido pelo velho gato e para não esquecer sua bondade que decidi tomar por nome FURUNEKO MUSHINSAI (Furuneko = o velho gato). Termina aqui minha história".
O velho Samurai tinha falado longamente. Já os pássaros cantavam nos bosques circundantes e o cume da montanha BIZAN começava a tingir-se das cores violáceas da aurora. Agradeci novamente sua interessante história e, depois de tê-lo saudado respeitosamente, ia expressar-lhe o desejo de revê-lo brevemente. Neste instante mesmo, uma voz ressou em meus ouvidos e tudo desapareceu no nada...
Espantado, constatei que tinha adormecido sobre a esteira do albergue. Levantei-me pelo meio e vi o que tinha me despertado: a velha hospedeira da choça tinha vindo anunciar que o desejum estava pronto. Foi então que compreendi que tudo o que tinha visto e ouvido fora um sonho.
Miau... um miado lamentoso e inocente saiu de sob minhas cobertas e fez-me estremer... era o gatinho que tinha posto à noite, antes de dormir, aos meus pés, para esquentá-los..

SHIRO SAIGO

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