14 de jul. de 2016

Renunciar ao apego, não ao mundo! - Dzongsar Khyentse Rinpoche

Como um seguidor de Sidarta [Buda], você não precisa imitar cada ação dele — não precisa fugir enquanto sua esposa está dormindo. Muitas pessoas pensam que o budismo é sinônimo de renúncia, deixar a casa, família e emprego para trás para seguir o caminho de um asceta.
Essa imagem de austeridade se deve em parte ao fato de que muitos budistas reverenciam os que mendigam, nos textos e ensinamentos budistas, assim como cristãos admiram São Francisco de Assis. Não podemos deixar de nos comover com a imagem de Buda andando descalço em Magadha com sua tigela de mendigar, ou Milarepa em sua caverna vivendo de sopa de urtigas. A serenidade de um simples monge birmanês aceitando esmolas cativa nossa imaginação.
Mas há também um tipo totalmente diferente de seguidor de Buda: o Rei Ashoka, por exemplo, que desceu de sua carruagem real, adornado com pérolas e ouro, e proclamou seu desejo de disseminar o Buda Dharma pelo mundo. Ele ajoelhou, pegou um punhado de areia, e jurou que construiria tantas estupas quanto havia grãos de areia em sua mão. E, de fato, cumpriu a promessa.
Então, a pessoa pode ser um rei, comerciante, prostituta, viciado ou presidente de empresa e ainda assim aceitar os quatro selos*. Fundamentalmente, não é o ato de deixar o mundo material para trás que budistas valorizam, mas a habilidade de ver o apego habitual a este mundo e a nós mesmos e renunciar ao apego.

Dzongsar Khyentse Rinpoche (1961 ~) - “What Makes You Not a Buddhist?” (O que faz você não ser budista?)

* Quatro selos:
Todas as coisas compostas são impermanentes
Todas as emoções são dolorosas
Todas as coisas não têm existência própria
O nirvana está além dos conceitos

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