30 de mar. de 2013

A Canção da Espada do Tai Chi



A arte da espada não é ensinada com facilidade.
Como os dragões e o arco-íris, ela é muito misteriosa.
Se você usa a espada para cortar e rachar.
Zhan San Feng rirá até evaporar-se como o orvalho.



Postagem retirada do Facebook da comunidade: 気 - Qi

21 de mar. de 2013

Hachi Dainin Kaku (Oito Aspectos da Iluminação) - Mestre Dogen Zenji

(Retirado do site Daissen - Portal Zen

Os Oito Aspectos da Iluminação
(HACHI DAININ KAKU)
Dogen Zenji
Tradução para o Português de Giovanni Dienstmann*


Os vários Budas foram todos pessoas iluminadas. A sua iluminação possui oito aspectos importantes. A realização destes oito aspectos é a base do Nirvana. Este foi o ensinamento final do nosso professor original, o Buda Shakyamuni, dado na noite de sua morte.

1. Ter poucos desejos
Ter poucos desejos significa não buscar extensivamente os objetos de desejo.
O Buda disse: “Praticantes! Vocês deveriam saber que aqueles que querem muitas coisas buscam tanto a fama quanto o ganho, e assim as suas aflições são muitas. Aqueles com poucos desejos, entretanto, nada procuram e não tem anseios, e assim não sofrem. Portanto vocês deveriam rapidamente se libertar da cobiça, tanto por este motivo como pelo motivo de que esta liberdade dará origem a várias virtudes. Além disso, as pessoas com poucos desejos estão livres da lisonja e da extraviação, e também não são escravizadas pelos seus próprios sentidos. Satisfeitos com pouco, eles não possuem preocupações ou medos, estando assim sempre calmos. Aqueles que tem poucos desejos tem o Nirvana.”

2. Satisfação
Satisfação significa estar contente com o que quer que se tenha.
O Buda disse: “Praticantes! Se vocês desejam se libertar do sofrimento vocês deveriam observar a satisfação. Estar satisfeito é ter um estado mental pacífico e feliz. Uma pessoa satisfeita é feliz mesmo que tenha que dormir no chão, enquanto que uma pessoa insatisfeita é infeliz mesmo vivendo em um palácio. A primeira é rica mesmo que seja pobre, a segunda é pobre ainda que seja rica. A pessoa satisfeita sente compaixão pela insatisfeita, pois esta é continuamente levada pelos cinco desejos[1].”

3. Apreciar a quietude
Isso significa viver uma vida solitária, separada de todas as perturbações mundanas.
O Buda disse: “Praticantes! Se vocês desejam desfrutar o silêncio e a felicidade do Nirvana, vocês deveriam deixar o clamor para trás e viver sem barulho em um local solitário. As pessoas que vivem em lugares quietos são respeitadas pelos deuses. Por isso vocês deveriam abandonar o seu apego ao ‘eu’ e aos ‘outros’ e viverem sozinhos, dessa maneira eliminando a raiz do sofrimento. Aqueles que gostam de multidões são perturbados por elas e sofrerão os seus aborrecimentos, da mesma forma em que uma árvore seca e quebra quando muito pássaros pousam sobre ela. Laços e apegos mundanos lhes afundam em um mar de dores, como um velho elefante atolado no lamaçal.”

4. Diligência
Cultivar virtudes sem interrupção é chamado diligência, pura e genuína, avançando sem olhar para trás.
O Buda disse: “Praticantes! Se vocês forem diligentes em seus esforços, nada será difícil. É como mesmo um pequeno fio d’água ser capaz de perfurar uma rocha se continuamente cai sobre ela. Entretanto, se vocês forem negligentes em sua prática e se suas mentes constantemente desanimarem, isso será como friccionar pauzinhos para produzir fogo mas parar antes que eles fiquem quentes – pode algum bom resultado ser esperado disso?”

5. Plena Atenção
Conservar os ensinamentos sem esquecimento é chamado de plena atenção, e também de “lembrança perseverante”.
O Buda disse: “Praticantes! Se vocês procuram um bom mestre e protetor, nada se compara à plena atenção. Aqueles que mantêm a plena atenção não são invadidos pelas aflições e permanecem livres de várias ilusões. Portanto, vocês deveriam se manter plenamente atentos, pois aqueles que perdem a plena atenção perdem as virtudes e seus méritos. Se vocês mantiverem a plena atenção, permanecerão ilesos mesmo quando cercados pelos desejos.”

6. Meditação
Meditação significa permanecer no Darma sem distração, com uma mente imperturbável.
O Buda disse: “Praticantes! Se vocês concentrarem a mente ela entrará em um estado de estabilidade, e assim vocês poderão compreender as características dos fenômenos surgindo e desaparecendo no mundo. Fazendo isso suas mentes permanecerão imperturbáveis. Assim como aqueles que querem evitar inundações constroem uma barragem, assim também o praticante cultiva a meditação para evitar que a água da sabedoria se perca.”

7. Sabedoria
Desenvolvendo a aprendizagem, aplicação e compreensão, a realização é a sabedoria.
O Buda disse: “Praticantes! Se vocês tiverem sabedoria, vocês não se apegarão aos desejos. Vocês devem examinar a si mesmos continuamente, sem permitir nenhum descuido, pois este é o caminho da iluminação. Aqueles que não praticarem isto não são monges nem leigos – não há como se referir a eles. A verdadeira sabedoria é como barco seguro para atravessar o oceano da doença, velhice e morte; como uma tocha luminosa na escuridão da ignorância; como um bom remédio para todas as doenças; e como um machado afiado para cortar a árvore das ilusões. A sabedoria resultante do ouvir, refletir e praticar o Darma pode assim ser usada para aumentar o seu mérito no Caminho. Se alguém chegar a possuir a luz da sabedoria, poderá ver a Verdade com os seus próprios olhos.”

8. Abster-se das conversas vãs
Abster-se das conversas vãs significa desapegar-se da discriminação arbitrária; quando nós compreendemos a realidade plenamente, nós não mais nos envolvemos em conversas fúteis.
O Buda disse: “Praticantes! Se vocês se entregarem a diversos tipos de conversas fúteis, sua mente será perturbada. Daí, mesmo se vocês se tornarem monges, não alcançarão a iluminação. Por isso, vocês devem imediatamente abandonar esse tipo de conversas. Apenas aqueles que fazem isso podem experimentar a tranqüilidade e bem-aventurança do Nirvana.”

Estes são, então, os oito aspectos da iluminação. Cada um deles contêm os outros oito, então são sessenta e quatro. Falando de forma mais ampla, se você os desdobrar, eles se tornam infinitos; se os resumir, são sessenta e quatro. Este foi o último ensinamento do nosso grande mestre Buda Shakyamuni, a essência do Mahayana, pronunciado por volta da meia-noite do dia 15 de fevereiro. Daí em diante ele permaneceu em silêncio até a sua morte.
O Buda disse, concluindo: “Praticantes! Sempre busquem com todo o coração pelo Caminho da Libertação, já que todas as coisas no mundo, móveis e imóveis, são formas instáveis sujeitas à morte. Parem agora e não falem mais. O tempo está acabando e eu vou atravessar para a extinção. Este é o meu último ensinamento.”
Portanto, os discípulos do Buda definitivamente devem estudar esses princípios. Aqueles que não estudam e praticam esses ensinamentos não são discípulos do Buda. Esses ensinamentos são Tesouro do Olho do Darma Verdadeiro, o coração do Nirvana. Apesar disso, entretanto, existem hoje muitos que ignoram estes ensinamentos, e poucos que estão consciente deles. Aqueles que não entraram em contato com esses ensinamentos estão nessa situação devido à influencia de demônios e também devido à falta de ações virtuosas no passado.
Antigamente, nos períodos do verdadeiro Darma e da imitação do Darma, todos os Budistas conheciam e praticavam estes oito aspectos. Hoje em dia, entretanto, é difícil encontrar um ou dois entre mil monges que conheça estes ensinamentos. Que pena – a decadência desta nossa era degenerada é mesmo inimaginável. Devemos nos apressar para apreender e praticar esses ensinamentos já que ainda é possível encontrá-los. Não sejam negligentes!
É difícil encontrar os ensinamentos do Buda mesmo em incontáveis éons[2]. É igualmente difícil nascer como um ser humano. Nós não só tivemos a sorte de nascer como seres humanos, como também a sorte de nascer em um local onde é possível ouvir os ensinamentos do Buda. Aqueles que morreram antes do Buda também não ouviram esses ensinamentos. Graças ao poder das nossas ações virtuosas no passado, entretanto, nós podemos ouvi-los e estudá-los. Agora, nós devemos estudar e desenvolver estes oito aspectos vida após vida, e assim certamente alcançaremos a insuperável iluminação. Se, além disso, nós os expusermos a todos os seres senscientes, então nós mesmos não seremos diferentes do Buda Shakyamuni.
(Escrito em Eiheiji, em 6 de janeiro de 1253)




* Fiz esta tradução adaptada baseado na tradução para o inglês de Thomas Cleary e de Yuho Yokai, em fevereiro de 2004 (N.T.)




[1] Segundo a doutrina budista clássica, os Cinco Desejos são: comida e bebida; sono; sexo; riquezas e bens; fama. (N.T.)
[2] Éons são períodos incontavelmente longos de tempo, durando milhões e milhões de anos. (N.T.)

1 de mar. de 2013

O Zen e as Artes Marciais

Zen e artes marciais

Imagem de Manjushri Bosatsu com a espada que corta as ilusões em suas mãos.

P: Como se explica a ligação entre o zen e as artes marciais se o budismo é avesso a violência?

R: O zen budismo , onde pôde, inflenciou a cultura amenizando-a, transformando-a, Isshin Sensei explica bem em seu blog (link ao lado):


Do blog de Monja Isshin Sensei:

Os dois ideogramas da palavra “Bu-dô” juntos significam “o caminho” (dô) de “deter a violência” (bu). O ideograma “bu” representa duas lanças cruzadas e uma pessoa sentada com a palma da mão levantada fazendo o sinal “pare”. Transmite a idéia de “parar com as lutas”. O ideograma “dô” significa “caminho espiritual”.
Algumas pessoas questionam a associação do Budô com o Zen Budismo, embora, de acordo com a tradição, tanto um quanto o outro já estavam vinculados ao Primeiro Ancestral Mestre Bodhidarma, no Templo Shaolin, na China antiga.

O Budismo nunca pregou a violência – sempre pregou as consequências cármicas de todos os nossos atos. A aproximação dos Samurais japoneses com o Zen se deu principalmente depois a unificação do Japão, com o início da era Tokugawa, ou Período de Edo (1603-1867) – uma longa era de paz. Os Samurais, antes guerreiros, passaram a ser policiais e burocratas e, agora com condições de cultivar a espiritualidade e o caráter, as técnicas marciais (Bu-jutsu) se transformaram em artes marciais (Bu-dô), caminhos espirituais. Mais ainda, um templo budista acolhe a todos, sem discriminação nenhuma, na esperança de transmitir os ensinamentos budistas, e também levar a Paz e a Tranquilidade a todos. Assim, os monges receberam os samurais japoneses na antiguidade, da mesma forma que hoje em dia recebem policiais e militares, junto com profissionais de quaisquer outras áreas – sem discriminação.

Os ensinamentos do Budô buscam o cultivo da ‘espada que dá vida’ – a força interior que permite ‘vencer’ um conflito sem a necessidade de luta ou violência. Em tal situação, não há ‘vencedor’, nem ‘derrotado’, e a harmonia é reestabelecida. No treinamento Zen Budista, na Cerimônia de Combate do Darma, é usada uma espada simbólica e, quando o Mestre pergunta: ‘Para quê vai usar essa espada?’, o aluno responde: ‘para dar vida!’


Retirado do blog do Monge Genshô: O Pico da Montanha é onde estão os meus pés

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